Aggry – Diz o autor serem contas de vidro “com lindos desenhos... parece que tiveram origem no Egipto... [e] os Fenícios que as trouxeram para África ao longo da Costa Ocidental.”
Axiluanda – Quer dizer ‘lançar as redes’, segundo o autor, que segue assim a interpretação de Mr. Alves da Cunha, associando o termo à rede dos pescadores da ilha; no entanto a pesca ‘à rede’ não é referida pelos missionários jesuítas que muito bem poderiam fazê-lo nas suas vívidas descrições da indústria local após a sua chegada com Paulo Dias à Luanda, em 1575. A palavra decompõe-se obviamente em a (“de”) e tyilwanda, a palavra umbunda para ‘savana’, ou ‘planície sem vales’, e mais provavelmente referia-se aos povos ‘de’ esta planície costeira da costa angolana, ou mesmo à superfície rasa da cúspide arenosa a que se tem chamado, impropriamente, ‘ilha’.
Bongue – Também escrito ‘bonge’ em documentos portugueses antigos, do Quim. mbonge, ‘nós de caniço’, segundo o autor; os imbonge [seriam usados na contabilidade tradicional e o termo veio a ser usado em referência ao dinheiro miúdo, também contável], por onde o nome do ‘paninho’ fabricado no Loango, que correu como moeda em Angola, o ‘libongo’.
Búzio – Termo usado genericamente pelo autor referindo-se à concha dos moluscos univalves; especificamente, ‘búzio’ é a concha dos moluscos da família Buccinidæ, e não a dos da família Cypreæ, a que pertence o ‘zimbo’, búzio-moeda, ou caurim, angolano.
Caurim – O uso deste búzio como moeda teve origem na Antiguidade indiana – onde se conhecia como córi, daí o nome em Inglês, cowrie – como o autor menciona, sem especificar; refere a sua cultura sobre folhas de palmeira, mergulhadas no mar, o que sugere um habitat diferente (provavelmente sobre caules de plantas marinhas) do da/s espécie/s angolana/s. Na primeira gravura da página 22 figuram duas cípreas e um fuso, não sendo, este, um padrão monetário em Angola; os búzios da segunda gravura também não são cípreas. O autor descreve o “búzio africano” ou “de anel”: trata-se do geldkaurie, ‘caurim-dinheiro’, dos Africaneres, uma espécie que habita as costas de Moçambique e da província sul-africana do Natal; segundo o autor, os Holandeses, precursores dos Africaners, não se utilizariam ainda do caurim africano no século dezassete, quando ocuparam Luanda (1640-7), pois para ali trouxeram como padrão de troca as ‘coralinas’, contas de material que não especifica; este facto sugere que já então escasseasse o zimbo, e corresse o libongo mais geralmente em Angola.
Chevron – Os pequenos objectos como as contas de feitio irregular na 2.ª figura à p. 24, encontrados, segundo o autor, em algumas escavações em Luanda com “aparência de serem antiquíssimas... exóticos trabalhos de cerâmica corada confeccionados com sucessivas camadas de vária cores sobrepostas... têm sido encontradas em túmulos no Continente Europeu e na Índia.” O autor refere que se fabricavam “em Veneza e na Índia”.
Cruzetas – Diz o autor que “No século XVIII, em algumas localidades para o Norte circularam pedaços de ferro e de cobre em forma de X... grosseira imitação do... dez Reis em letra Romana... nas antigas moedas... de D. Pedro II”; no entanto a gravura de uma “cruzeta” na p. 27 mostra um objecto idêntico à handa do tipo ‘vela de moinho’ da figura na p. 33, dita proveniente do Catanga e da Lunda, enquanto que os escritos portugueses coevos não referem cruzetas nesta região, mas sim, e abundantemente, a manilha ou ongondo. O fabrico da cruzeta da bacia do r. Zambeze é certamente bem mais antigo que aquelas moedas portuguesas, trazidas para Angola em 1694: o autor refere a primeira notícia de aspas em forma de ‘velas de moinho’, de um relatório de D. Álvaro Vaz de Almeida em 1516, que informava ter António Fernandes visto os nativos das terras de Ambar, vizinha da Monomotapa, vender os objectos, feitos de cobre proveniente (?) “dos rios de Manicongo, na Rodésia”.
As cruzetas fundiam-se em dois desenhos básicos: o normal, em ‘X’, das culturas Luba e calunda, e o longo, as “cruzes de S.to André” da cultura monomotápica, “típicas das minas de Manicongo”, segundo o autor, que aparentemente se refere aos ‘rios’ mencionados pelo Fernandes quinhentista. Cruzetas normais são os objectos representados nas moedas de 1 e 5 francos de 1961 do Catanga, semelhante a espécimes encontrados nesta região e na Lunda, as chamadas handas de tipo ‘vela de moínho’; do segundo tipo são algumas, de confecção bem mais cuidada, com um rebordo e secção trapezoidal, encontradas nas margens do r. Mpofu, Zimbabwe, e aparentemente precursoras das cruzetas do Catanga. As cruzetas normais atingiam os 30 cm de envergadura e chegavam a pesar 1700 g; representavam, refere o autor, o preço de um escravo, e, mais recentemente, o objecto dava-se em troca de uma esposa, entre os Baluba.
O autor refere que, segundo o P.e Arnot, os Basanga fabricaram lingotes de cobre até 1891, de minas de malaquite e em fundições exploradas por certas famílias aristocráticas, possivelmente até uma casta. Os nativos mencionados pelo Fernandes eram “povos mais brancos que escuros” que Tracey coloca “além do r. Hnugani”.
* Natural de Moçâmedes, hoje Namibe, Angola. Amigo e colega no Helderberg College, África do Sul. Depois de terminar os estudos universitários, em Geologia, fixou residência naquele país. |